sábado, 10 de julho de 2010

Um projeto grandioso.

"...Este modelo animal é tão importante que um consórcio mundial está envolvido na produção e análise de camundongos ‘nocaute’ de todos os 20.000 genes presentes neste organismo. É um projeto grandioso que está orçado em aproximadamente 900 milhões de dólares.."


Camundongos são excelentes quando se trata de modelos para a pesquisa básica no estudo da saúde humana. Os camundongos são usados como modelos para o estudo de doenças como câncer e diabetes, por exemplo, e o seu genoma, o conjunto de genes de um organismo, é muito semelhante ao nosso. Uma maneira muito elegante de se estudar o papel dos genes nos seres vivos é a produção de organismos onde este gene está ausente. Esta tecnologia é chamada de ‘nocaute do gene’ e o organismo produzido sem determinado gene é chamado de ‘nocaute’.

Os camundongos são animais corriqueiramente utilizados para este fim. Muito do que sabemos sobre determinados genes foi possível pelo estudo de camundongos ‘nocaute’. Não é fácil produzir um camundongo ‘nocaute’ mas atualmente existem diversas empresas no exterior que produzem camundongos ‘nocaute’ sob encomenda. Em breve esta facilidade deve estar disponível também aqui no Brasil, uma vez que o Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais, um laboratório aberto ao uso de pesquisadores brasileiros, está montando uma ‘fábrica’ de camundongos ‘nocautes’ no seu Laboratório de Biociências (http://www.lnls.br/site/interna.aspx?id_conteudo=146).

Este modelo animal é tão importante que um consórcio mundial está envolvido na produção e análise de camundongos ‘nocaute’ de todos os 20.000 genes presentes neste organismo. É um projeto grandioso que está orçado em aproximadamente 900 milhões de dólares (Nature 465 (2010): Mouse project to find each gene's role, pág. 410; e Mouse megascience, pág. 526) e que deve levar cinco anos apenas para completar o projeto piloto, o qual envolve 4.000 genes.

Certamente, haverá muitos benefícios advindos deste projeto para a nossa compreensão da biologia e da saúde humana. Contudo, ainda existe muito para ser aprendido. Basta lembrar que de certa forma sabemos mais sobre o câncer em camundongos do que em humanos e que nem tudo o que aprendemos poderá ser relacionado diretamente a estudo em humanos. E o apoio a este tipo de pesquisa não é unânime, muitos acham que o investimento deveria ser aplicado diretamente no estudo do genoma humano, ainda que, por motivos éticos, a possibilidade de intervenção em camundongos seja maior do que em humanos.

De modo geral, me parece esta a melhor maneira da ciência avançar, passo a passo e com muita discussão, mas sempre com a finalidade de aumentar a qualidade de vida do ser humano respeitando-se os parâmetros éticos.

(escrito originalmente em 07/2010)

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